quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ainda há tempo para pensar

Acordou, seu quarto lhe parecia diferente, rogou pragas a sua mãe identificando-a como protagonista daquela obra. Saiu fechando a porta furiosamente, gritando. Seu pai surgiu, tinha um ar pesado e lagrimas lhe caiam silenciosamente pelo rosto. “O Nino morreu??” Pensou a criança já de idade adolescente, recorda-se ter ouvido sua mãe dizer no dia anterior que o Nino não andava bem do seu coração e por isso lhe mudou a saca de comida. “A tua mãe...”. Relembrou-se de que a procurava furiosamente pra lhe perguntar porque mecheu em seu quarto sem lhe pedir permissão. “Tua mãe morreu.”

Nuvens negras surgiram, e trovões lhes seguiram, quedando-se paralizado olhou seu pai com incerteza, quando este começa a correr e como que não vendo a janela em sua frente contra ela se atira. Ouvem-se arbustos partir e de seguida um tremendo silêncio se sentiu.

Estupfacto, como que num pesadelo de onde não pode sair, correu para a janela e viu seu pai despedaçado no chão. Correu gritando e chorando em direcção à cozinha, esquecendo-se que se enfadou momentos antes com quem agora buscava. “MÃE, O PAI CAIU!”

A cozinha estava vazia, com um ligueiro cheiro a mofo, seguiu correndo para a sala, e finalmente encontrou sua mãe, sentada no divã, onde sempre se lembra de a ver, com um ar angelical como só ela o tinha.

Os raios cada vez mais forte sonavam, e antes sequer de ele se poder aproximar de sua criadora um raio mais forte se fez ouvir e um segundo, como que jogando tiro ao alvo, o telhado da casa atingiu destroçando-a ao meio. Viu sua mãe longe, e cada vez mais longe, até sentir o chão debaixo de sí, caindo de costas nele.
“MÃE!!” gritou, apenas ela lhe preenchia o pensamento. A casa caía pouco a pouco, e como pó ou nevoeiro se esfumaçou. Teve de fugir, ou seria esmagado por uma parede partida, correu para trás apenas o suficiente para não ser atingido e logo que pôde avançou decidido sobre a casa, saltou por cima do que havia ainda sem ver nada, apenas um som turvo, como que alguém a chamá-lo. Desesperado, a desejar não ter acordado naquele dia, com raiva pelos pensamentos maldosos que a sua mãe proferiu, sentiu-se estúpido como nunca, inútil, um monstro.

O som inicial se converteu em outro um pouco mais nítido, parece... parece... o nino! Pensou a criança. Como que um tunel vazio e limpo se abriu no meio da poeira, e pôde vê-lo, são e salvo. Correu para o tirar dali, entrando no tunel de ar quando uma ultima parede que até então se erguia caiu... Não resistiu e chorou mais que nunca, vendo aquele que o seguia desde que se lembra ser esmagado pela casa que os criou.

A chuva ficou mais forte. Já sem pensamento, já sem sentimento, já sem dor, já sem corpo, desistiu jogando-se para a frente em direcção a um monte de parede partida, desejando assim terminar finalmente a sua estadia naquele mundo.

Ao cair em seu objectivo, acordou, estava ao lado de sua cama, e o seu quarto tinha regressado ao que estava antes, tudo não passou de um sonho…



12-03-2010 17:14

N. Fingidor


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